A L. é irmã do T. Tem 11 anos e é uma das crianças mais adultas que já
conheci. Toma conta do irmão e mesmo quando ele não está ao lado dela,
sabe sempre onde ele está.
A semana passada quando cheguei, veio logo ter comigo e disse "Vamos-nos embora! De vez!", de acordo com a história, o pai tem que arranjar trabalho e não está a conseguir aqui. Ela estava triste. Talvez porque como eu, ia perder uma amiga. Eu não sabia se havia de levar a história a sério ou não. É costume pessoas dependentes de droga fazerem planos e falarem deles mas muitas vezes não irem avante com a ideia. A maior preocupação dela era o T. Ele tem uma terapeuta da fala que demorou muito tempo a conseguir e se se mudarem para outro sítio ele vai perder esse benefício. Segundo ela, o T já fala muito melhor desde que começou as sessões com a terapeuta.
A semana passada quando cheguei, veio logo ter comigo e disse "Vamos-nos embora! De vez!", de acordo com a história, o pai tem que arranjar trabalho e não está a conseguir aqui. Ela estava triste. Talvez porque como eu, ia perder uma amiga. Eu não sabia se havia de levar a história a sério ou não. É costume pessoas dependentes de droga fazerem planos e falarem deles mas muitas vezes não irem avante com a ideia. A maior preocupação dela era o T. Ele tem uma terapeuta da fala que demorou muito tempo a conseguir e se se mudarem para outro sítio ele vai perder esse benefício. Segundo ela, o T já fala muito melhor desde que começou as sessões com a terapeuta.
Tentando animá-la disse "Bem, então temos que fazer alguma coisa
especial antes de irem embora!". Não pareceu resultar. Como se não
acreditasse em mim. Tentei de novo "Aposto que vais à praia muitas
vezes, mas se calhar podíamos ir lá este fim de semana! Que achas?" Os
olhos abriram-se mas não olhou para mim. Abriu a boca e gritou pelo
irmão: "T.!!!!! ELA DIZ QUE VAMOS À PRAIA!!". Apressei-me a calá-la.
"Temos que falar com a tua mãe primeiro." Voltou o olhar triste "Aposto
que ela vai dizer que não!". Entretanto ouço uma discussão. Um dos
"patrons" (o que chamamos a quem vem receber comida e não consigo
encontrar tradução para a palavra), alguém que conheço por ter um atraso
mental e se comportar como uma criança de 15 anos apesar de ter quase
60, decidiu pôr uma das mesas do jantar, no meio do parque de
estacionamento. Se aparecesse um carro, não poderia passar. Vi o seu ar
entusiasmado, já sentado na mesa como quem espera a comida, enquanto
dizia "Que divertido!! Hoje vamos jantar num sítio novo!!". Mas a N, a
mãe do T e da L, não estava a achar piada. Chamou-lhe todos os nomes
ofensivos que sabia. Alguns que eu nunca tinha ouvido, enquanto lhe dava
murros nos braços e dizia "És mesmo uma criança!! Porta-te como um
adulto".
Estavam cerca de 30 pessoas no parque de estacionamento. Ninguém se
mexeu a não ser a L. Correu para a beira deles e tentou afastar a mãe
como quem separa uma briga. Toda a gente baixou a cabeça e fez de conta
que nada de passava enquanto a L dizia à mãe para parar de a envergonhar
e para se afastar. O "patron" disse qualquer coisa inaudível e a L
disse-lhe "pára de a provocar!". A mãe continuou a gritar e a atirar-se
para cima do senhor. Aparece o Marcus, um dos voluntários que coordena o
jantar e disse "Já chega!". Ficou tudo em silêncio enquanto ele pegou
na mesa (fazendo com que o "patron" se levantasse) e pôs-la no lugar do
costume. A N afastou-se e a L foi para um canto, demasiado envergonhada
para olhar para mim. Apercebi-me então que as lágrimas escorriam pela
minha cara e o meu coração estava prestes a sair-me pela boca.
Não sei se consigo explicar o porquê. Sei que estava em comunhão com a
vergonha que ela sentiu. Passou-me pela cabeça tudo o que a L poderia
estar a sentir e saiu em forma de lágrimas e soluços.
Não falámos até a refeição ter acabado e todos se terem ido embora. A
caminho de casa vi-a sentada num banco e jardim e sentei-me ao lado
dela. Estava de olho no irmão enquanto ele brincava no chafariz ao
longe. Não falei do que se tinha passado. Perguntei o porquê de estarem
ali. Ela disse que estavam à espera dos pais. Perguntei onde é que eles
estavam. "A tentar arranjar droga. Não deve demorar".Olhei em volta e vi
o pai a sair de um beco e a entrar na biblioteca. Provavelmente para ir
ªa casa de banho e se trancar lá dentro. Pensei eu.
Perguntou-me se eu estava a falar a sério quanto a irmos passear à
praia. Eu disse que sim. A mãe dela voltou e eu sabia que era má altura
para falar com ela. Tinha acabado de tomar qualquer coisa e não estava
em si, mas não queria desapontar a L.
Falei-lhe da ideia e ela disse que sim, que podíamos passar o dia
juntos. A L chamou o T e começámos os 3 a fazer planos de um dia feliz
na praia a comer gelados.
Dois dias depois, quando chego, a L senta-se ao meu lado e chama-me
mentirosa. Eu perguntei porquê e ela disse que não podíamos ir à praia! A
mãe disse que ela e o T não iam a lado nenhum comigo e com o Jack! Era
óbvio que a mentirosa aqui não era eu, e tanto eu como a L sabíamos, mas
mais uma vez ela tinha demasiada vergonha para admitir que a culpa era
da mãe. Perguntei se a mãe tinha dado um motivo e ela ficou-se pelo
"sim". Eu disse que ela não tinha que me dizer o que a mãe lhe disse e
ela agradeceu, acrescentando que preferia não contar.
Não sei como vão os planos de se mudarem. Mas disse-lhe que talvez
pudéssemos ficar pelo centro da cidade a comer um gelado da próxima vez
que nos encontrássemos por acaso.
Nos anos da L o Jack comprou um bolo e velas e levámos para o parque de
estacionamento. "NÃO QUERO CANTAR OS PARABÉNS À FRENTE DESTA GENTE
TODA!!!!!!!" e o Jack diz "Oh vá lá!" E ela diz "OOOOOOOOOKKKKKK!!" :)
E levou o bolo para casa para partilhar com a avó.
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